segunda-feira, 25 de março de 2013

A sombra da ditadura, lá e aqui




O mês de março de 2013 pode ser considerado um mês para se esquecer no que diz respeito a liberdade de expressão e de imprensa. No Reino Unido, os parlamentares decidiram que será criado um órgão fiscalizador para analisar as matérias publicadas na imprensa para ver se "passaram da mão" em algum ponto. O órgão terá poder para, depois de publicada a matéria, pedir direito de resposta ou mesmo um pedido de desculpa por parte do jornal, revista ou site que tiver publicado. Não terá poder de fechar um meio de comunicação, mas poderá aplicar multas de até 1 milhão de libras, ou mais ou menos R$ 3 milhões de reais, para os que infringir as novas regras. Não será formada por políticos, mas por pessoas comuns e sujeitas as ordens da rainha Elizabeth. Pode-se dizer que é o fim de uma democracia consolidada há mais de 300 anos.*

Aqui em Bebedouro, como não poderia ser diferente, aconteceu no mês de março uma ameaça a liberdade de expressão e de imprensa. O prefeito Fernando Galvão, em horário de expediente, convocou uma reunião entre seus assessores, vereadores e a Promotoria, com o propósito de fechar (isso mesmo, fechar), o “O Jornal”. Reclamou que pegamos muito no pé, que inventamos coisas, que tumultuamos seu governo assim, logo no início. Reclamou, reclamou, teve o apoio da maioria dos presentes e seguiu sua ladainha de pesares, por não aguentar uma pressão como essa. Uma minoria assistiu, boquiaberta, a uma afronta declarada a um órgão independente, que apenas relata os fatos e com amplas provas do que divulga. Ao promotor, segundo alguns presentes relataram, só coube informar que o prefeito, como advogado que é, sabe os meios legais de fazer parar a publicação do que ele julgar mentira, e disse que o melhor remédio para as críticas é o trabalho sério, focado em resultados. Se eles, prefeito e vereadores, trabalhassem direitinho, o “O Jornal” e nenhum outro órgão teria o que falar deles a não ser bem.

Não bastasse isso e infeliz por não ter conseguido que a reunião surtisse o efeito esperado, diz a boca pequena, que está chamando um por um dos profissionais da imprensa pedindo ajuda para fechar o “O Jornal”. Em outro momento, chegou a visitar alguns patrocinadores de nosso jornal pedindo que parassem de anunciar conosco. Pensa que, diminuindo nossas receitas, ficaremos impedidos de publicar atos que ele prefere esconder, atitudes erradas que ele toma e, principalmente, nos impediria de contestá-lo. Provavelmente ele ache uma afronta seres tão pequenos e desprezíveis como nós, trabalhadores e pagadores de nossos impostos em dia e pessoas comuns, termos a audácia de contestá-lo. Além disso, enviou novamente à Câmara Municipal um projeto de lei que já foi rejeitado em outra legislatura tentando criar a Imprensa Oficial. Na verdade, é apenas porque o “O Jornal”, através de um Pregão, conseguiu ganhar as publicações oficiais da Prefeitura. Participamos porque temos nossos impostos pagos em dia, diga-se de passagem, e fomos o único jornal de Bebedouro a participar. Agora, descontente porque não dizemos "amém" a tudo o que ele fala e nem aos absurdos que ele cometeu até aqui, que romper o contrato conosco com a desculpa de que a cidade pode economizar com a criação da Imprensa Oficial. Ledo engano, acredite. Os gastos serão ainda maiores.
Enfim, estes dois exemplos da censura são perigosos e devem fazer levantar toda a população. A imprensa foi criada para fiscalizar os poderes e os poderosos, não o contrário. Se não há imprensa séria, comprometida com a verdade, para fiscalizar e mostrar à população os desmandos dos poderosos, como viverá a sociedade? Com vendas nos olhos? Alheia ao que verdadeiramente acontece e apenas tendo acesso ao que os "poderosos" acham que ela deve saber? É este o país e a cidade que queremos? Daqui a pouco será tirado do cidadão até o direito de pensar que as coisas poderiam ser diferentes. Daqui a pouco perderemos até o direito de pensar.

Pense nisso. A liberdade de imprensa tem muito mais a ver com a liberdade de uma nação do que muita gente pensa.

*O caso é uma resposta ao escândalo ocorrido em 2011 com o tabloide News of the Word, do empresário Rupert Murdoch. Na época, a direção do tabloide montou uma inescrupulosa rede escutas telefônicas entre famosos e pessoas comuns e também a corrupção de pessoas com propina visando obter informações privilegiadas. Um crime, sem sombra de dúvidas. Agora cabe a pergunta: e se um grupo de empresários, como observou a revista Veja em sua edição do dia 27 de março, usasse do mesmo expediente para obter informações privilegiadas de seus concorrentes e conseguir vantagem de mercado? Seria preciso a criação de um órgão especial para julgá-los ou determinar sua punição ou a justiça comum, a que rege a todos, serviria? "Ou bastaria usar as leis existentes para processá-los e pôr os culpados na cadeia?", como diz a publicação? Coisas como essa são ameaças a todos os cidadãos, e não apenas aos (bons) profissionais da imprensa. Pensem nisso.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Você é o resultado de suas escolhas




O título deste texto pode parecer piegas, “batido”, manjado, mas é a pura realidade da vida. Se não é a grande verdade da vida, deve pelo menos ocupar a segunda ou terceira posição, pode acreditar.

Isso já era uma constante na minha vida, e confesso que sempre tive medo dessa tal “verdade”, mas dia desses pude ver o quanto isso é verdade. Sem entrar no mérito da questão, vi uma pessoa cumprindo exatamente o papel que sua escolha o cedeu nesse grande teatro da vida, como alguns gostam de chamar a vida que levamos. E o melhor de tudo: a pessoa em questão estava relativamente feliz com o rumo que sua vida tomou, não demonstrou nenhum arrependimento ou sinal de que, talvez, lá atrás, pudesse ter tomado outra decisão que mudasse seu caminho no dia de hoje. Ela estava feliz com sua escolha e com sua condição.

De certa forma, me dá muita paz de espírito saber que, mesmo numa condição em que eu não me sentiria bem, as pessoas se acostumam e se sentem realizadas. Sempre disse às pessoas que me conhecem a fundo (um pequeno grupo, diga-se de passagem), que tenho medo de muitas coisas: cobra e rato em especial, mas do que eu tenho mais medo é da minha consciência. Tenho pavor de um dia ser atormentada por ela e ficar arrastando correntes pelo resto da vida por alguma coisa que eu fiz ou deixei de fazer. 

Na maioria dos casos o meu pavor maior é das coisas que eu possa deixar de fazer, e ainda hoje carrego comigo uma espécie de “culpa” por não ter esgotado todas as possibilidades em um caso especial*. Por isso, ver pessoas em certa posição de “sofrimento escolhido” me assusta um pouco.

No calor da emoção de ver uma situação como essa, meu sentimento primeiro foi de agir para mudar o quadro, mesmo que isso não me atinja diretamente. Porém, pensando melhor e com a boa e velha dose de tempo para colocar as ideias no lugar, pude ver que essa não era uma decisão que eu tinha que tomar, afinal, como eu disse, isso não me afeta diretamente. O que fazer, então?

Nada, definitivamente nada. Nada pode ser feito por outra pessoa quando alguém resolve seguir seu caminho, mesmo que isso demande certo sofrimento a que escolheu essa trilha. O que podemos fazer é torcer, de longe, para que tudo saia conforme o planejado, mas se interferir diretamente na escolha. Afinal, cada um é responsável pela sua, e de cada um será cobrado o desfecho, seja ele qual for. Pense bem antes de “escolher” suas escolhas.