terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O meu Natal inesquecível - Parte I



Demorei 2 dias para escrever este texto.

Minha família era de origem pobre. Meu pai, ferroviário, e minha mãe, manicure, tudo o que poderiam juntar era para o terreno que eles tinham acabado de comprar (onde a gente mora até hoje). Eram tempos difíceis, onde tudo que entrava era para a construção da nova casa.

Só fazendo um parênteses, a gente não passava por momentos tão difíceis quando eu nasci.  A gente ainda morava na casinha da Vila Paulista, mas as coisas já estavam melhores. A cozinha ainda era de zinco e cheia de furos (chovia muito dentro), mas meu irmão Rogério já trabalhava e dava um reforço na casa. Tudo tendia a melhorar.

Meu irmão, como algumas pessoas sabem, começou a trabalhar muito cedo. Ele tinha responsabilidades que um menino da idade dele nem sonhava em ter pois, além dos deveres do estudo, tinha que trabalhar e ganhar o dinheiro que ajudaria em casa. Sempre foi assim. A vida nunca foi fácil para nós e, em algumas ocasiões, nem guarda-chuva ele tinha para ir trabalhar. Bom, mas isso é outra história.

Como eu dizia, desde quando eu nasci, meu irmão já trabalhava. Isso porque a gente tem doze anos de diferença, ou seja, quando eu nasci, ele tinha 12 anos e já trabalhava. E foi logo depois disso, quando eu tinha uns 5 ou 6 anos, que ganhei meu primeiro presente (pelo menos o que eu mais me lembro), o mais inesquecível de todos. Ganhei dele, e só dele (com o dinheiro que ele tinha juntado além do que ajudava em casa), uma Mônica, da Turma da Mônica, muito maior e mais pesada do que eu.

Toda linda, de vestido vermelho e dentes avantajados. Ela era muuuuito grande e pesava muito. Tinha uma cabeça enorme e maciça que, além de aumentar o peso, doía muito quando batia na minha.

No mesmo dia, no mesmo Natal, ganhei de minha mãe, dona Terezinha, uma boneca chamada Menininha. A menininha era mais leve, mas tão enorme quanto a Mônica. Loira, com roupas da moda e do meu tamanho, teve um “efeito” dentro de mim igual de quando eu vi a Mônica: me apaixonei!!!

Dois presentes lindos no mesmo Natal, o que mais eu poderia querer? Bem, eu queria era brincar com as duas, mas carregá-las era muito difícil. Se eu pegava uma, não conseguia brincar com a outra por causa do tamanho... hehehe... Eu sofri bastante e tive vários galos na cabeça... Bons tempos!

Como eu disse, eu morava na Vila Paulista e lá tinha vários amigos. A alegria dos Natais na Vila era sair no dia 26, logo que o sol nascia, para mostrar os brinquedos e agilizar as brincadeiras. Uns ganhavam bolas, outros bonecas, outros bicicletas, outros ganhavam outros brinquedos “da moda” que os pais, assim como os meus, passavam o ano todo pagando para poder ver, no dia de Natal, o sorriso de seus filhos. Me emociono só de lembrar. Lá não tinha facilidade ou brinquedo todos os dias, mas o Natal era uma data especial. Todo o sacrifício valia a pena para ver a alegria no rosto dos filhos, ou da irmã, como é também o meu caso.

Foi um Natal mágico! Inesquecível e cheio de significados que só fui entender depois de crescida. Aí vai o mais importante deles:

- Mais importante que o presente (ou o tamanho dele), é o que ele simboliza para você. Tenho essas bonecas guardadas até hoje, e nada me fará desfazer delas. Elas foram o primeiro sinal de luta da minha família e, principalmente, do meu irmão, que sempre foi um exemplo de luta para mim. Todo o esforço para esconder o presente durante quase um ano, pagando o carnê ainda, de uma criança que fuça em tudo, é uma boa maneira de fazer o Natal valer à pena e gerar expectativas. Os olhos de uma criança quando veem o seu presente aos pés da árvore, ou debaixo da cama (como era o meu caso), acho que não tem preço para quem quer agradar.

O Natal de “antigamente” nos ensina várias lições. A importância do presente (já que era ganhado apenas no Natal), a curiosidade de saber o que é, esperar acordar no dia 25 para ver o que é, compartilhar e acordar cedinho para ver e brincar com os amigos, não há dinheiro que pague. Quem dera ainda o Natal tivesse esse significado...
PS: Tenho várias histórias de Natal para contar aqui... Mas elas vão em pílulas... uma depois da outra... Acho que vocês vão gostar!

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